sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Uma análise sobre a cobertura da violência no Estado

por Catarina de Angola

A partir de uma análise não sistemática das matérias publicadas nos três principais jornais do Estado, Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco e Jornal do Commercio, observamos que os enfoques das reportagens são bastante divergentes quando o adolescente é vítima, e quando ele é o autor de algum ato infracional.

Em geral, nas notícias em que os adolescentes são os acusados da prática dos atos infracionais, os jornais impressos dão ênfase a esse fato nos títulos e subtítulos, levando em consideração a questão da redução da maioridade penal Já em situações em que os garotos são vítimas, percebe-se que a cobertura, em sua maioria, é apenas informativa.

Podemos pegar como exemplo a matéria Matadores atacam em frente à imagem da santa no Morro, publicada no Jornal do Commercio, que trazia a notícia do assassinato de dois adolescentes. Sobre a resolução do caso, o jornal apenas diz que um delegado iria ser designado para apurar o crime. Essas reportagens ainda trazem a informação de que existem suspeitas de que as vítimas tivessem envolvimento com drogas.

A exemplo da matéria Jovem assassinado em Sovaco da Cobra da Folha de Pernambuco, que trazia a informação de que um adolescente tinha sido assassinado, mas, segundo “informações coletadas pela polícia entre os moradores da área, a vítima seria viciada em drogas, o que poderia ter alguma relação com o seu assassinato”.Da forma como essa informação foi colocada na matéria, passa a idéia de que o crime contra aquele (a) jovem foi justificado pelo seu suposto envolvimento com entorpecentes.

Porém, a cobertura muda se a criança ou adolescente for de classe média, pois nesses casos o sofrimento da família é enfocado na busca de uma resolução rápida para o caso, a exemplo do caso João Hélio, o menino que foi arrastado por vários km no Rio de janeiro e que comoveu todo o país e que foi extremamente explorado pela mídia nacional e local.

Outro fato recorrente nas matérias sobre crianças e adolescentes pobres é a utilização do termo “menor” pelos jornais. É preciso lembrar que esse termo não é mais utilizado desde a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990. É importante destacar que o papel da imprensa é levar a sociedade a informação correta dos fatos, porém, jornalistas e editores devem ter cuidado para que, no exercício da sua profissão, não enfatizem preconceitos, que geram injustiças sociais.

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